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Vazios urbanos: espaços esquecidos e, ou abandonados.

Foto do escritor: Thalison TeixeiraThalison Teixeira

Atualizado: 1 de mai. de 2023



Esta é a tríade da resolução de problemas que estudei durante um ano e meio para a elaboração do meu tcc na arquitetura, quando surgiu a necessidade de criar um projeto que alcançasse positivamente o maior número de pessoas possível e que preferencialmente fosse de uso público. O estudo começou com um levantamento de informações em jornais e revistas que tivessem alguma matéria falando sobre parques e praças abandonados, terrenos baldios que fosse de domínio público e que tivesse fácil acesso e possibilidade de intervenção. A procura foi longa e demandou complemento de informações, levantamento em campo e reconhecimento da região, mas em fim o terreno ideal apareceu e com muito potencial.


Terreno este que era um parque fundado, batizado e entregue ao povo por volta de 1970 e que durante muitos anos serviu ao seu propósito, mas com falta de verba pública acabou por não ter recurso para pagar os funcionários da manutenção que por sua vez deixaram de cuidar do parque, que perdeu seus usuários e aumentou a criminalidade e assim foi seguindo até não ter mais frequentadores, as estruturas foram depredadas para retirar tudo o que poderia ser vendido pelos vândalos que se apropriaram das dependências cerca de 30 anos após a entrega do parque ao povo.


Tirando toda a parte burocrática que sabemos que existe no meio político para as destinações de verbas para cuidar desta estrutura e visando as possibilidades de uso deste parque para que ele se mantivesse cumprindo ao seu papel de servir ao povo levando espaços de lazer e contato com a natureza, qual solução poderia ser adotada para que este espaço voltasse a funcionar, e mais, pudesse se sustentar para não depender inteiramente de verbas públicas? Como um projeto multidisciplinar de arquitetura poderia mudar a situação deste parque? Quais intervenções seriam necessárias para que o parque a longo prazo se mantivesse funcionando e em uso?


Eu me fiz estas perguntas e no decorrer das pesquisas para fundamentar a proposta de intervenção usei de meus conhecimentos de outras áreas e com uma visão de gestão empreendedora e conceitos usados no mundo corporativo cheguei na tríade de resolução dos vazios urbanos: Atemporalidade das construções; diversificação de usos e autogestão de espaços coletivos e públicos.


Com estes três pilares consegui fundamentar minha proposta e criar soluções que a longo prazo e sendo bem implementadas dão um fôlego para o gerenciamento do parque, conseguindo assim a garantia de seu uso social que é melhorar a qualidade de vida de seus frequentadores através do contato com a natureza e a possibilidade de socializar através de suas áreas livres.


Pesquisando bem raso no seu navegador de internet as definições que encontram sobre estes pilares seriam basicamente estas:


Atemporalidade: característica do que é atemporal, do que não é afetado pelo tempo; intemporalidade. (Definições de Oxford Languages)


Diversificação de usos: é uma estratégia corporativa para entrar em novos produtos ou linhas de produtos, novos serviços ou novos mercados, envolvendo habilidades, tecnologia e conhecimento substancialmente diferentes. (Wikipedia)


Autogestão: é a administração de um organismo pelos seus participantes, em regime de democracia direta. Em autogestão, não há a figura do patrão, mas todos os empregados participam das decisões administrativas em igualdade de condições. Em geral, os trabalhadores são os proprietários da empresa autogestionada. (Wikipédia)


Com estes conceitos bem explorados e direcionados para a proposta de intervenção pude criar soluções arquitetônicas que perduram o tempo e criam a integração dos espaços propostos pensando em fluxos de pessoas para o uso dos espaços e como podem sofrer mudanças de ocupação sem que seja necessário criar novas estruturas e mobilizar novos recursos para as implementações.


Uso dos conceitos com um olhar arquitetônico para as edificações e espaços projetados:



Atemporalidade: Já parou para reparar os gramados de praças, parques e até mesmo pastagem em campos abertos? Sempre terá um "caminho de vaca", atalho ou uma linha reta entre dois pontos que levam a um determinado ponto mais rápido que os caminhos projetados. Estes caminhos são sinais de que poderiam ter pensado melhor os acessos a partir da experiencia de seus usuários. Deixar que o público defina o uso através do tempo é melhor que impor uma aplicação que será subutilizada e mal dimensionada para pessoas desinteressadas em ocupar de fato os espaços livres.

Outro ponto para tratar a atemporalidade é a mudança rápida com que as coisas perdem valor em um mundo digital e com tantas novas possibilidades como novas profissões, possibilidades de trabalho remoto, compras online que chegam na sua casa fazendo com que a saída seja opcional. Como vamos garantir que daqui a 50 ou 100 anos as pessoas dependerão dos mesmos serviços e opções de lazer que projetamos e ocupamos hoje? Não podemos pensar a curto prazo quando se trata de estruturas por ser uma alocação de recursos muito grande para que se "desperdice" em dez ou vinte anos.


Diversificação de usos: Pensar a diversificação dos usos é um caminho natural quando passamos pela atemporalidade, por ser uma forma de aplicar o que intuía. É quando os usuários ganham consciência de seus hábitos de uso e passam a racionalizar o que antes era inconsciente, sendo este um caminho sem volta. As estruturas de base da construção podem ser fixas, duradouras e preferencialmente de materiais naturais ou industrializados, desde que respeite as legislações ambientais, o ecossistema de onde estão sendo extraídos e considerando os deslocamentos entre o ponto de extração, refinamento ou processo industrial e a chegada até o local da obra. Partindo da premissa regional, onde o uso do que é natural e regional faz com que aumente as assinaturas características dos traços arquitetônicos, amplia a valorização dos profissionais locais garantindo mais rentabilidade para suas famílias e preservando-se as características desta região.

Com isso pensa-se o espaço para o maior número possível de usos, com pé direito altos, vãos livres e maneiras de apropriar e dar novos usos a estas estruturas ao longo do tempo, uma ótima opção é fazer vigas invertidas com alturas e larguras para usa-las como bancos nas extremidades da construção, vãos com aberturas largas e altas para janelas e divisórias, cortes em pontos estratégicos nas lajes para estruturação de shafts elétricos e hidrossanitários. Criar estruturas com ritmo, proporção e simetria modular para facilitar as montagens e especificações quando necessário trocar os usos destes espaços, fazendo com que os usuários mesmo que não sejam especialistas em construção possam imaginar como será a apropriação.


Autogestão: uma construção ou complexo construtivo autogerido é basicamente uma estrutura com seus dependentes, colaboradores e usuários não dependendo de recursos externos para manter-se em funcionamento. Com a criação do projeto, aprovação, licenciamento finalizado e liberado para funcionamento com recursos públicos o empreendimento tem como missão manter-se em funcionamento com recursos próprios vindos da comercialização de produtos regionais vendidos nas instalações do parque com feiras semanais, geração de energia elétrica por painéis solares implementados no estacionamento e edificações, locação de equipamentos, venda de ingressos para eventos abertos na esplanada ou exposições nas galerias. Locação de espaços para implementação de comércio nas dependências do parque também ajudam a custear a suas operações.

Uma outra opção para capitalizar a execução dos projetos destes parques, praças e espaços de uso público com sistemas de autogestão é o uso de contrapartidas adotadas nas negociações de novos empreendimentos regionais de condomínios e loteamentos, que para serem aprovados com ponderações nas prefeituras muitas vezes é negociado uma taxa ou a execução de um serviço para fazer a compensação do impacto gerado deste empreendimento.


Custeio das estruturas: mesoestrutura com aluguel social


Fica uma pergunta:


Por que devemos pagar para usar um espaço público?


E a resposta é bem clara, não existe espaço público que se mantenha em bom estado de conservação e em uso constante sem manutenção. Para isso é necessário colaboração das pessoas para mantê-lo conservado e mesmo assim é necessário ter funcionários dedicados a manter esta estrutura funcionando. Com isso podemos pensar que o recurso deve sair de algum lugar, certo? O aluguel de espaços para criação de lojas, lanchonetes, bares e restaurantes é um bom exemplo de como conseguir recursos para manter em funcionamento toda a estrutura, mas de fato não é a única maneira.


Podem por exemplo ser adotadas estruturas de esportes, locação de equipamentos como bolas, bicicletas e patinetes. Criar espaços locáveis para eventos restritos a venda de ingressos, uso de coberturas e estacionamentos para implementação de painéis fotovoltaicos com arendamento, criação de salas de coworking para reuniões, espaços de sala de aula para eventos institucionais e tantas outras possibilidade que são funcionais e que possuem demanda local. A ideia principal é o uso da tríade proposta neste artigo para criar uma estrutura sustentável e com mais possibilidades de se modernizar e se preservar através dos tempos. Pensar estas estruturas e fundamental para o início de uma mudança de pensamento cultural onde "o que é público não é de ninguém", para "o que é público é meu também e por isso preciso cuidar e preservar".


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