Deixo aqui um pouco sobre o meu trabalho final de graduação com intuito de ajudar outros alunos que estão em busca de temas para o tão sonhado e temido "TCC" e para profissionais que gostem do tema e queiram explora-lo.
Lembrando que as informações aqui apresentadas são baseadas em atualizações até o ano de 2018 e após este período já ouve alterações nas informações referentes ao parque.
RESUMO
Este trabalho possui a finalidade de auxiliar na elaboração de projeto arquitetônico e paisagístico para implantação de equipamentos públicos de lazer e revitalização das estruturas existentes no parque Fernão Dias que encontra-se na divisa dos municípios de Betim e Contagem, o mesmo encontra-se abandonado a cerca de vinte anos pelo poder público, foi denominado como área de preservação ambiental (APA) e hoje está em posse do Instituto Estadual de Florestas (IEF) com acesso restrito a pessoal autorizado.
INTRODUÇÃO
Como a arquitetura e urbanismo pode interferir positivamente na vida das pessoas? Como intervir em espaços públicos que foram abandonados? Como tornar o espaço coletivo atraente? Segundo Jacobs (1961) a diversificação de usos dos espaços públicos fazem com que as pessoas queiram frequentar as ruas, e trazem vida a estes espaços. Em seu livro “A morte e vida das cidades” relata como a cidade tem vida e como os moradores, lojistas e transeuntes são importantes para que a cidade funcione.
Não é possível mentir para um parque de bairro nem argumentar com ele. “Concepções artísticas” e plantas persuasivas podem compor imagens vivas nos parques de bairro ou nas esplanadas arborizadas, e a argumentação pode invocar frequentadores que deveriam apreciá-los, mas na realidade somente uma vizinhança diversificada tem o poder efetivo de introduzir uma fluência natural e permanente de vida e de usos. A variação arquitetônica superficial pode parecer diversidade, mas só uma conjuntura genuína de diversidade econômica e social, que resulta em pessoas com horários diferentes, faz sentido para um parque e tem o poder de conceder-lhe a dádiva da vida. (JACOBS, 1961. Pag. 76).
A partir do princípio apresentado por Jacobs, entende-se que o espaço público precisa ser ocupado por pessoas que possuem um interesse genuíno e que encontram o que buscam, seja pontos comerciais, feiras, lojas ou parques com intuito de ter o descanso, lazer, brincadeira, amizades ou interação.
O parque Fernão Dias situado entre os municípios de Betim e Contagem está em uma área de grande fluxo de carros e intenso movimento industrial, mas apresenta uma população carente de áreas verdes nos bairros residenciais que o circundam e por cerca de 20 anos foi o espaço ideal para os moradores e visitantes. Inaugurado em 1980 através de uma parceria entre o governo do estado e a prefeitura de Contagem foi idealizado como ponto de encontro dos moradores de ambos os municípios. Com o passar dos anos o espaço perdeu a segurança com a redução de funcionários e deixou de ser ocupado até o fechamento total, segundo reportagem publicada no jornal O TEMPO, (GUIMARÃES, 2007).
O parque está interditado e abandonado, os equipamentos estão degradados, as fiações da rede elétrica foram saqueadas, os banheiros, ponto de apoio, restaurante e playground foram destruídos. A falta de pessoas ocupando o parque fez com que caísse em declínio e a única forma de reestrutura-lo novamente é tornando-o atrativo para as pessoas, diversificando seu uso e incentivando a população a ocupá-lo de forma consciente.
Justificativa
Segundo Scalise (2002), os parques públicos são utilizados como formas de trazer as áreas rurais para dentro das cidades, buscando melhor qualidade de vida, promoção de lazer, saúde, socialização e preservação ambiental. Desde o século XIX os parques urbanos vem sendo construídos e foi potencialmente espalhando pela Europa, e América a partir da reforma de Haussmann em Paris que deu origem a diversos movimentos com participação de arquitetos, urbanistas entre outras autoridades e especialistas no assunto que fizeram parte do movimento “Park Moviment” durante o século XIX. O IBGE lançou uma pesquisa em 2010 que mostrou uma carência de verde no entorno das residências nas cidades como mostra o trecho abaixo publicado na Gazeta do Povo.
Um terço dos domicílios em áreas urbanas não têm uma árvore sequer em seu entorno. São 14,9 milhões de moradias (32% do total pesquisado) onde vivem 50,5 milhões de pessoas (33%). (...) A falta de área verde é muito mais acentuada nos domicílios pobres. Nas moradias com renda per capita mensal de até um quarto do salário mínimo, 43,2% não têm árvores no entorno. O índice cai quase à metade, para 21,5%, nos domicílios de renda de mais de dois salários mínimos por pessoa. (Gazeta do povo, 2012).
Esta pesquisa ressalta que precisamos incentivar a utilização dos parques urbanos como forma de integração nas comunidades e bairros de baixa renda, visando isto em 1980 foi criado o parque Fernão Dias, hoje encontra-se abandonado e subutilizado, classificado como área de proteção ambiental e não traz benefício algum a comunidade nesta condição.
Referencial teórico
Jane Jacobs refere-se aos parques como espaços que precisam de pessoas, descreve o processo de análise e levantamento das necessidades dos ocupantes e transeuntes nestes locais, cita exemplos de parques genéricos e específicos e como o desuso causa um impacto negativo muito grande na saúde dos espaços públicos.
Em síntese, se um parque de bairro genérico não pode ser sustentado pelos usos derivados de uma diversidade natural e intensa da vizinhança, precisa ser convertido de parque genérico em parque especifico. Uma diversidade de usos verdadeira, que atraia naturalmente uma sucessão de frequentadores diferentes, deve ser introduzida deliberadamente dentro do próprio parque. (JACOBS, 1961. Pag. 80).
Seguindo este conceito apresentado por Jacobs de que parques precisam de usos específicos quando o genérico não é atrativo suficientemente para o público conseguimos integrar o pensamento de Jan Gehl ao escrever que o acúmulo de pessoas em uma determinada área é bom, desde que bem estruturado. Sempre que duas pessoas se encontram para realizar uma tarefa, brincadeira ou expressão artística, tende-se a atrair mais pessoas para o local onde se encontram.
Cidades convidativas devem ter um espaço público cuidadosamente projetado para sustentar os processos que reforçam a vida urbana. Uma condição básica é que a vida na cidade seja potencialmente um processo de auto reforço. As pessoas vão aonde o povo está” diz um provérbio comum na Escandinávia. Naturalmente, as pessoas se inspiram e são atraídas pela atividade e presença de outras pessoas. Das janelas, as crianças veem outras crianças brincando e correm para juntar-se a elas. (Gehl, 1936. Pag.65).
Precisamos de locais planejados em malhas estruturais simples e de preferência plano, com locais de convivência bem locados, convidativos, que as pessoas queiram utilizá-los e bem distribuídos para não haver uma dispersão grande da população e o abandono destes espaços como ocorrem nos centros comerciais e de serviço que somete atraem os que dele precisam de algo. Precisamos de espaços de transição para amenizar o que é público e o que é privado respeitando a ambos.
Proposta apresentada na parte II do TFG
Abaixo deixo as imagens da modelagem 3D das galerias e demais edificações propostas para ocupação do parque para melhor compreensão do trabalho como um todo.
Conclusão
Todo o planejamento do trabalho está embasado em 3 pilares que são expressos o tempo todo na proposta de conceito e partido arquitetônico das edificações, e que visa a sobrevivência do parque ao longo prazo. A atemporalidade, a autogestão e a diversificação de usos estão representados em ambientes amplos que acolhem diversos formatos e usos, materiais resistentes e de pouca manutenção e longevidade imposta por ambientes adaptáveis, chamativos e receptivos a novos usos.
Espero que a leitura tenha ajudado e se chegou até aqui deixe o seu gostei e caso tenha alguma dúvida é só escrever aqui em baixo que responderei em seguida.
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