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Medir e sentir o espaço construído

Foto do escritor: Thalison TeixeiraThalison Teixeira

Atualizado: 20 de fev. de 2023

Arquitetura sensorial: partindo de sentir e perceber o espaço habitado


Tive uma irritação com um cliente de consultoria que não demonstrava nenhuma sensibilidade com o espaço que iria usar durante várias horas por dia, em outro caso a cliente era completamente indecisa sobre como ornar o espaço para atendimento de pacientes durante um período do dia e dividir a função do espaço com local de estudos em outro período de tempo. Claro que isto não é um caso isolado e grande parte das pessoas não se atentam aos detalhes ou gatilhos que o espaço construído pode despertar nelas. Com estes clientes especificamente tive de criar uma abordagem mais profunda sobre como é nossa percepção ao chegar, ao sair, como é o ambiente ergonomicamente falando para não acontecer acidentes ou o desconforto de estar sempre atento para não bater o dedinho no canto de algum móvel.


Fazer exercícios de visualização do espaço sempre são bem vistos e aceitos, por mais doido que seja você andar contando passos, estivar em linha horizontal os cotovelos dentro de uma área de box, sentar como se fosse usar a bacia sanitária para ver se não vai bater a testa na parede do banheiro ou de qual lado da bacia sanitária é melhor para colocar uma lixeira. Clientes como estes não tem nenhuma percepção do espaço ou tem tanta que não conseguem se decidir em como usar ou decorar o espaço. Não se permitem errar ou dar outros usos para o local, decisões assim os deixam bitolados e extremamente ansiosos na hora de tomar qualquer decisão de reforma e é preciso ajuda de um profissional para guia-los na transformação dos espaços.


Cada casa um caso, é algo que costumo pensar sobre meus atendimentos e falo isso com os vendedores que efetuam as vendas do meu serviço em uma multinacional da construção, pois não dá para padronizar todas as experiências e criar uma única entrega. Cada casa possuí os seus mais diversos moradores e cada um tem um traço de personalidade mais forte que por sua vez despertas diferentes traços de arquitetura e por isso é bom sempre aprender sobre a ciência das cores. Existem traços afetivos que geram gatilhos emocionais também através de uma cor preferida, uma forma de organizar, ou não, um ambiente e isso implica em formas diferentes de sanar seus problemas. Como pensar em casa de vó sempre que vê um fogão a lenha, pano de prato bordado ou um filtro de barro, estes elementos provocam gatinhos de cuidado, amor, carinho na maioria das pessoas e isso pode ser usado nos projetos para trazer ambientes de aconchego e acolhimento.


Não podemos descartar nenhuma possibilidade de algumas pessoas terem casos mais graves transtornos mentais ou hipersensibilidade a ambientes muito carregados de texturas, padrões geométricos e cores, muitos ambientes mal planejados podem agravar sintomas de ansiedade, taquicardia, claustrofobia e depressão. Em parâmetros médios em que a maioria das pessoas podem fazer valer as dicas aqui apresentadas abaixo, vou falar mais sobre os espaços e um pouco sobre a percepção que podem e deveriam proporcionar.


Pontos que são usados na hora que vou fazer um atendimento de cliente, claro que não carrego uma lista enorme com todos os pontos, até por que não daria tempo de sanar todas as dúvidas em um primeiro contato. Muito se nota no ambiente em que a pessoa vive, no que ela fala, nos hábitos que ela possui e na comunicação pós primeiro contato.


Qual a intenção do espaço?

É preciso saber qual a finalidade e a intenção por trás do espaço, qual sensação quer passar reformando ou construindo?


Quarto: Ambiente calmo? Tranquilidade? Para descanso do morador ou visita? Sensação de hotel ou tradicional? Para acordar cedo ou dormir até mais tarde? Ambiente claro ou escuro? Minimalista ou contando a história do usuário com adornos e retratos?


Sala: Espaço de tv e ou pra jogos? Só para visitas? Aconchegante com almofadas ou somente o sofá? Com plantas? Quadros, pinturas ou retratos? Quantas pessoas sentadas?


Cozinha: Pequena ou grande? Para quantas pessoas cozinhando? Cozinha todos os dias? Integrada ou separada dos demais cômodos? Com bancadas grandes? Bancada de lanches?


· Quais elementos vai permanecer e quais vão sair?


Quando digo elementos quero falar de mobiliário, artes gráficas, pinturas, esculturas, tapeçaria. Tudo aquilo que tem algum valor sentimental e simbolismo religioso, herança ou que está em bom estado para ser reutilizado após a reforma ou construção do novo lar.


· Tem luz natural suficiente?


Este é um ponto muito importante para a saúde física e mental de quem vai usar este ambiente, evolutivamente falando, estamos condicionados a sermos diurnos e ter um funcionamento diferente durante dia e noite no nosso relógio biológico, e isso é refletido no espaço, outro ponto é que todo ambiente de permanência prolongada precisa receber luz e uma boa ventilação para reduzir ácaros e fungos que podem proliferar com mais facilidade em ambientes úmidos, frios e com pouca luz.


· Quantas pessoas vão usar este espaço?


É importante ter isso bem definido mesmo que por uma expectativa baixa ou alta de um evento esporádico, a questão é saber se o espaço comporta com o mínimo de conforto e evitando acidentes as pessoas que venham a usar o espaço.


· Quanto tempo de permanência e qual atividade a ser exercida no espaço?


Este é um outro ponto que tem tudo a ver com o anterior, é preciso saber qual atividade vai ser praticada no espaço que está sendo planejado, tem que ser previsto os mobiliários fixos e móveis, é preciso pensar em aquecimento ou resfriamento do ambiente ao longo das quatro estações, é preciso pensar em acústica a depender de qual atividade a ser realizada. Estes pontos são de grande importância e analisados juntamente com traços de personalidades que identifico nos clientes, seus hábitos, a função do espaço para o usuário entre outros pontos que possuem correlação na materialização do projeto que idealizamos a partir destes quesitos apresentados. Arquitetos urbanistas tem um dever social de se conectar com os espaços por onde passam, e sentir não somente como é o espaço, mas também como é a relação do usuário com este espaço, seja ele público ou privado.


“Para criar novos espaços é preciso sentir como é a relação dos usuários futuros com o espaço antes mesmo de eles existirem”.

É preciso projetar bancos, cadeiras, janelas, portas, lixeiras, rampas, iluminação entre tantos outros pontos importantes que só indo em outros lugares que pareçam com o que será projetado poderá trazer à tona estes pontos, ou através de pesquisa cientifica e social para entender a ordem comportamental coletiva e privada de cada indivíduo exposto a um estimulo.


Espaços de transição: em ambientes internos o espaço de transição pode ser considerado a área entre a sala e cozinha, o corredor entre os quartos e o banheiro, a área entre a porta de entrada da casa e a garagem.


Corredores: Por mais que o nome diga corredor, não necessariamente é um ambiente propício para esta atividade, o corredor é sempre o ambiente obrigatório que nos permite transitar entre os demais ambientes da casa, em prédios é o espaço entre as moradias e o bloco de escadas e elevador. Estes espaços são subjugados e são a ultima parte da construção a receber um tratamento estético, muitas vezes só recebe uma iluminação geral, pintura e piso, por se tratar de um espaço de passagem não recebem muita atenção.


Fachadas: elementos essenciais para garantir uma boa eficiência energética da casa e reduzir problemas de infiltração, insolação elevada em estações onde o sol bate durante quase todo o dia. As fachadas que são trabalhadas normalmente com maior cuidado em casas principalmente são as fachadas frontais, as laterais costumam ser de divisa com vizinhos e não recebem tanta atenção e as de fundo são esquecidas e negligenciadas com o “eu não estou vendo, então não preciso fazer” ou “não vou rebocar agora, é o dinheiro do porcelanato que quero para a cozinha” e nessa negligência é que os problemas aparecem, o gesso mancha, as paredes recebem muita umidade e acabam dilatando mais criando frestas nas paredes, em período prolongado de chuva acaba por minar água e mofar a casa e isso agrava problemas com doenças respiratórias principalmente em crianças.


Proporção da área construída com o entorno imediato: Este é um ponto importante na hora de falar em escala humana e na percepção do espaço. Muitas construções são pensadas para fazer uma grande maioria da população se sentir diminuída, desprotegida, vigiada ou oprimida como é o caso das prisões e igrejas, sim a prisão e a igreja estão na mesma frase por ambas terem elementos de opressão e diminuição do ser, chamo isso de “arquitetura do poder”, que nada mais é do que elementos trabalhados para causar sensações nos indivíduos ou coletivos “massas” que frequentam o espaço construído. Estas estruturas monumentais destoam de todo o reste dos prédios e casas no seu entorno que geralmente possuem até dois ou três andares.


Arquitetura hostil: É bem representado por condomínios fechados com seus grandes muros que não dão visão para a rua e criam uma estrutura de não segurança em seu lado de fora por não terem lugar para as pessoas correrem em caso de assaltos, outro exemplo é as áreas de centros urbanos como viadutos, marquises e esquinas sem passagem para pedestres que facilitam emboscadas para furtos e roubos, estes elementos podem e devem ser pensados na hora de projetar e na hora que o cliente solicita o potencial máximo construído de seus empreendimentos.


Elementos naturais e fabricados: Um outro ponto importante a ser trabalhado nesta temática de arquitetura sensorial é a questão dos materiais e o que podem passar quando combinados ou usados isoladamente, como uma textura pode trazer aconchego ou solidez, frieza e sobriedade. Tudo isso é pensado quando o cliente vem com uma ideia de construção, seja para ambientes públicos e ou privados, residenciais e ou comerciais. A pergunta sempre será a mesma para todos estes casos: Qual a sensação você (cliente) quer passar quando entrar no ambiente ou quando as pessoas entrarem... A partir da percepção do cliente é definido o partido arquitetônico que servirá de guia para a elaboração do plano de reforma ou construção deste espaço.


Temos muitos temas levantados até aqui e isso é muito importante, para ter uma continuação deste artigo, te convido a deixar nos comentários alguma ideia que poderia complementar a temática e que percebeu enquanto lia, nos acompanhe nas redes sociais para ver os projetos e se inscreve no site para receber sempre as atualizações e novas postagens. Obrigado por ter chegado até aqui e até breve!

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